Minha trajetória até UX

Victoria Dal Bello
10 min readFeb 21, 2021

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Comecei com a ideia de escrever um texto sobre minha transição de carreira, mas acabei fazendo uma grande reflexão sobre a minha trajetória. Desde já peço desculpas pela falta de síntese.

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O ano é 2011.

Um dos meus critérios principais na escolha da minha profissão era que eu queria algo que eu pudesse cuidar de pessoas. Pensei em estudar nutrição e fui desencorajada, pensei em estudar psicologia e fui desencorajada mais uma vez. Eu tinha acabado de mudar de estado, de mudar de uma cidade com 60 mil habitantes, para uma das maiores cidades do mundo. Estava longe da minha família e sentia que precisava desta aprovação na minha escolha. Lembro de pensar na época que eu teria que abrir mão desse critério na escolha da minha profissão e que daria um jeito de fazer algo relacionado ao cuidado de pessoas de outras formas.

Decidi então estudar Publicidade, pois era uma profissão em que eu poderia mesclar criatividade, comunicação e números, outros assuntos que eram importantes para mim.

Minha trajetória.

Comecei a minha carreira em um instituto de pesquisa da Kantar. Tive meus primeiros contatos com pesquisas quantitativas e qualitativas, tive a oportunidade de entender as relações entre empresas e clientes, trabalhei com testes de naming, pré-testes de comunicação, tracking de marcas… Tive uma chefe incrível, que me ensinou muito sobre gestão de pessoas e eu acho que foi a melhor experiência de primeiro emprego que eu poderia ter tido.

Depois, tive a oportunidade de trabalhar por dois anos em uma consultoria de marca, com um time de profissionais super sêniores. Eu era a única pessoa que não era de exatas e a mais júnior de todas. Nesta empresa, aprendi muito sobre valor de marca, a importância de uma marca forte e como isso pode trazer retornos financeiros. Entendi mais sobre como empresas funcionavam, aprendi a trabalhar em prazos apertados. Tive a oportunidade de trabalhar com empresas de serviços financeiros, de educação, de biscoitos e até de cimento!

Após essa experiência, fui trabalhar na empresa em que estou hoje, uma empresa que eu sempre admirei! A marca que eu estudava na faculdade. Foi um processo seletivo que durou quase 2 meses e eu fui entrevistada pela pessoa que eu mais admirava na área de branding e publicidade. Posso ser sincera? Eu nunca achei que ia conseguir. Eu falava para os meus pais: estou indo nas entrevistas para treinar, mas não vai rolar. Só que rolou! E eu lembro de chorar de felicidade quando me ligaram falando que eu tinha passado.

Comecei meu caminho nessa empresa em uma vaga de branding institucional, em que trabalhei muito perto da área de pesquisa e participei de projetos incríveis ao lado de profissionais igualmente incríveis. Depois, trabalhei com branding e comunicação focados em colaboradores, o que me levou para um projeto sensacional de melhoria da experiência de colaboradores. Neste projeto, entrevistei colaboradores, conduzi dinâmicas de co-criação, desenhamos jornadas atuais e jornadas ideais, identificamos muitos problemas e resolvemos muitos deles. Foi quando eu percebi que estava conseguindo cuidar de pessoas com meu trabalho e que era com projetos assim que eu queria trabalhar. Projetos que tivessem como objetivo a melhoria ou a criação de boas experiências e que elas fossem feitas junto com as pessoas para as quais essas experiências estivessem sendo feitas.

Ainda atuando nesse projeto, fui contemplada pela empresa com um curso de formação em Design de Serviços ministrado pela Hyper Island. Foi ali que eu entendi que o design é muito mais do que a arte que eu sempre amei contemplar, mas nunca tive talento para criar. Que design é um mindset e era com isso que eu queria trabalhar!

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Início da transição.

Foi ali, em 2018, que a minha transição começou. Fiz minha inscrição em uma pós graduação em inovação em cuja grade tinha uma série de disciplinas de design de serviços e experiência do usuário. Quanto mais eu estudava, mais tinha certeza que eu queria trabalhar com aquilo.

Ao final de 2019, eu terminei minha pós-graduação e eu já não estava mais atuando tanto em projetos de melhorias/criação de experiência. Claro que eu tentava trazer o mindset e as ferramentas aprendidas para o meu dia a dia, mas, por uma série de fatores, não era a mesma coisa. Eu estava infeliz, pois eu sabia o que eu queria, sabia no que queria me desenvolver, mas a função e a área em que eu estava não me dariam isso. Meu plano era continuar estudando e tentar mudar de área.

A pandemia chegou, as vagas dentro da empresa congelaram. Eu decidi que ia usar as duas horas e meia que eu costumava ficar no trânsito indo e voltando do trabalho para estudar mais sobre UX. O fato de muitos cursos passarem a ser online no contexto de pandemia, possibilitou que eu os fizesse e assistisse às aulas gravadas depois, caso ficasse trabalhando até mais tarde no dia. Algo que não era possível antes e me fazia pensar duas vezes antes de comprar um curso, pois eu tinha medo de investir e não conseguir chegar a tempo por questões de trabalho, trânsito…Etc.

Fiz um curso de introdução à Experiência do usuário na Descola, depois, fiz uma formação de UX com a How Bootcamp — que foi incrível e eu indico para todo mundo! Eu já tinha escutado sobre Ux Writing, inclusive já conhecia um ux writer maravilhoso que trabalha no Itaú e que é meu amigo, mas no auge da minha ignorância, eu achava que tinha algo relacionado a ter um dom e que era obrigatório ter cursado jornalismo. — Pode rir.

Mas, neste curso de formação da HOW, as professoras aprofundaram em UX Writing e fiquei encantada. Então, eu poderia usar tudo o que aprendi ao longo da minha carreira sobre pesquisa, branding, design de serviços e, ainda, ter como entrega final os textos — sempre amei escrever — da experiência? Seria um sonho? Rs. Na minha percepção, uma das coisas que me impediria de mudar de área era o fato de que eu não tinha experiência em desenhar interfaces. Pois, querendo ou não, na maior parte das vezes a entrega final de um Uxer são as telas da experiência.

Assim que soube disso, chamei o Lucas Mendes Paiva (o meu amigo Ux writer) e pedi todos os artigos, textos e livros sobre o tema. Ele, prestativo e generoso, me passou tudo e até me indicou para a vaga dele, já que ele estava migrando de área! Li todos os artigos, comprei os livros e os devorei, fui buscar no Linkedin os nomes de pessoas que atuavam como Ux Writers e descobri pessoas incríveis como Ludmila Rocha (Ux Writer no Banco Carrefour), Ariana Dias Neves (Ux Writer na Saúde ID), Bruno Rodrigues(Consultor, professor e autor do livro Em busca de boas práticas de Ux Writing — que aliás, SUPERINDICO), @CristinaLuckner (Ux Writer no Nubank), Janaína Pereira (Atualmente no Itaú e referência no país em em Voice User Interface)… E muitas outras pessoas.

Eu tive o baita privilégio de estar empregada nesta pandemia e, por isso, consegui investir em alguns cursos de Ux Writing, como o da Descola, da Alura, da Mergo com Cris Luckner, da How Bootcamp com Bruno Rodrigues (fiquei encantada com a sua didática e humildade!) e o da Caroline Linhares. Aliás, é possível aprender MUITO só seguindo Linkedin e no Medium essas pessoas que eu citei e outros profissionais maravilhosos. Inclusive, era parte da minha meta ler pelo menos um artigo por dia sobre Ux Writing. O Medium tem muitos conteúdos espetaculares. Dá para aprender muito. Um salve para os profissionais que não têm medo de compartilhar o que sabem!

Início de um sonho…

Em um não tão belo dia, eu estava realmente chateada com as minhas atividades no trabalho. Sabia que teriam pessoas que adorariam ter aquelas funções e que poderiam estar fazendo com muito mais alegria do que eu. Resolvi enviar um e-mail para o head de User Experience do Itaú. Eu pensei: "Que vergonha! O que ele vai pensar?". Mas logo a coragem e o "O não eu já tenho. É só um e-mail. Se ele quiser, ignora e vida que segue" substituiu a vergonha e eu escrevi um e-mail falando da minha trajetória — não se preocupe! Foi muito mais sucinto que este texto! — e da minha vontade de trabalhar na área que ele liderava e lidera até hoje.

Para a minha surpresa, a resposta veio rapidamente e ele topou bater um papo. Lembro de não conseguir dormir no dia anterior à conversa. Conversamos e o papo foi ótimo, aprendi muito! Mas as notícias não eram as melhores: no momento, todas as vagas estavam congeladas e ele não podia me garantir nada, mas prometeu que me manteria no seu radar para caso surgisse alguma oportunidade. Confesso que fiquei um pouco frustrada, mas com uma pontinha de esperança.

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Deu tudo certo!

Passaram-se alguns meses e eu fui avisada sobre a oportunidade, passei por um processo seletivo e fui aprovada. Lembro de sentir uma sensação de emoção e felicidade parecida com a que eu senti lá atrás, quando soube que tinha entrado no Itaú.

Assim que soube do resultado, além de me inscrever em um curso de português, pois há tantas regras na nossa querida língua portuguesa das quais eu já não lembrava mais e queria garantir que eu não cometesse erros — mas eu ainda os faço. E acho que 99,9% das pessoas também, sabia? rs — também fui conversar com algumas pessoas que desempenham papéis similares no Itaú. E uma dessas pessoas era ninguém mais ninguém menos do que — wait for it — Janaína Pereira! Sim. Aquela que é referência no país em voice user interface.

Eu já comecei o papo falando que eu era sua fã e que eu estava começando a minha carreira do zero, que eu não sabia nada e essas coisas que eu tenho mania de dizer. Ela me escutou atentamente — a Jana nunca interrompe — e disse com suas palavras, que eu não vou saber repetir aqui, mas, basicamente, que eu NÃO estava começando do zero. Que tudo que eu tinha construído na minha carreira até aqui era importante e que me ajudaria a ser uma Ux writer melhor. Eu, que já era fã, quase chorei — sério. Tive que me controlar para ela não me achar tão doida.

Essa fala me deu segurança para desempenhar o meu papel da melhor forma que eu posso e, como em toda interação que eu tenho com a Jana, me fez refletir sobre algo mais profundo do que o objetivo da conversa. Repensei a forma como eu costumo me colocar para as pessoas. Eu não sou melhor que ninguém, óbvio, mas por que eu tenho sempre que me colocar como a pior? O que eu espero com isso? — Mas isso é papo para outro texto.

Só queria deixar aqui o meu enorme agradecimento e carinho pela Jana, que é uma pessoa que me ensina em todas as interações que tenho com ela. Tanto questões técnicas — que ela obviamente tem muito para ensinar — quanto questões de como ser como pessoa. Ela é um exemplo de ser humano! Obrigada, Jana! ❤

Há seis meses estou analista de UX e Ux Writer no Itaú e, pela primeira vez, sinto-me completamente realizada com o que faço. Trabalho com designers, ux writers, product owners e muitos outros profissionais incríveis que me ensinam MUITO todos os dias. Faço entrevistas com clientes que também me ensinam muito e me ajudam a fazer um trabalho melhor. Estou inserida em uma cultura de constante aprendizado, iteração e que vê erros como forma de aprendizado. Sinto que estou cuidando das pessoas quando as escuto e tento facilitar ao máximo suas experiências para que não percam tempo e consigam atingir seus objetivos sem interrupções. Pela primeira vez, desde 2011, sinto-me completamente realizada com o meu trabalho. Não é que o meu dia a dia seja perfeito, que não existam reuniões difíceis e dias frustrantes. Perfeição não existe. Mas eu sou feliz na maior parte do tempo e eu gosto da maioria das minhas atividades.

E não, não foi sorte — como já escutei. Foi meu empenho e todo o trabalho que construí ao longo da minha trajetória! Aliás, essa foi a fala da pessoa que me contratou — e que hoje é a minha referência de gestão excelente: "o seu trabalho te trouxe até aqui!"

Um resumo caso você não tenha paciência de ler tudo — e eu te entendo!

  • Se não está feliz com o seu trabalho, entenda quais são as atividades que você menos gosta e quais são as que mais gosta. Busque entender como você poderia fazer mais do que mais gosta.
  • Tenha um plano: ninguém merece trabalhar infeliz. Eu garanto que ter uma plano com pequenos objetivos por semana/mês ou o que funcionar melhor para você, além de ajudar a chegar onde você quer também acalmará a sua ansiedade, pois só de saber que você está fazendo algo para mudar, já te trará mais tranquilidade!
  • Não tenha medo de chamar pessoas referências na área para a qual você quer mudar para conversar, pegar dicas, tirar dúvidas. O não você já tem!
  • Invista em conhecimento. Não tem grana para investir em cursos? Há muitos cursos gratuitos na internet. Busque saber quem são as pessoas referência na área e as siga em todas as redes sociais. Muitas dessas pessoas participam de lives gratuitas e compartilham muito conteúdo bacana.
  • Você não começa do 0. Você leva suas experiências com você!
  • Não desista de fazer o que gosta! Se não for no seu trabalho ainda, faça como hobby após o trabalho, nas horas livres…
  • Não idealize. Não existe trabalho perfeito. Dias frustrantes existem na vida e em qualquer trabalho!

Se eu puder ajudar em algo, conte comigo. Estou sempre disponível para um café virtual! :)

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